0 Vale da Crima surge-nos como curiosidade, ao fazermos o levantamento toponímico da freguesia do Arrabal.
Este local verdejante que se situa a sudoeste da Martinela, acompanhado na sua extensão por altas rochas lajeadas fazendo lembrar um mini lapêdo, aparece associado ás invasões firancesas, segundo depoimentos colhidos junto das pessoas mais idosas da região.
As opiniões, no entanto, dividem-se quanto á origem do topónimo. Uns defendem que tal teria acontecido durante a primeira invasão, da responsabilidade de Junot, em 1808, ao destacar para a área de Leiria o General Margaron, que positivamente arrasou a cidade com as suas peças deartilharia pesada, naquela que ficou tristemente célebre com a batalha de Leiria.
Defende-se até que para condenar os reféns, teria chegado ao ponto de criar um tribunal num local próximo do Vale da Crima, conhecido por Padrão (Pardon?). Outros há porém, que garantem estar o Vale da Crima (Val du Crime) ligado á terceira invasão francesa, chefiada em 1810 por André Massena.
Teixeira Botelho escreve em 1915 um livro a que chama "Guerra Peninsular" e vem fazer um pouco, de luz sobre as ocorrências verificadas na Primavera de 1811, quando o "Filho da Vitória" retira atabalhoadamente para Santarém, depois de derrotado nas linhas de Torres Vedras. Ansioso de reforços que não chegavam, consegue contactar com, o seu General, Jean Baptiste Drouet, Conde d'Erlon, a quem ordena que rume a Portugal com o seu 9°. Corpo de 8 000 homens, depois de ouvido o Imperador. Este assim faz a chega a Leiria, onde fica a guardar novas ordens. A situação porém não melhora para Massena, pois as comunicações estavam deterioradas e este temia aventurar-se em operações com o exército anglo-luso.
As tropas enfraquecidas e famintas do general saqueavam e matavam num redor de quinze léguas e quando os bandos regressavam com as alimárias carregadas, eram muitas vezes chacinados por emboscadas, que lhes retiravam o produto dos saques. Conta-se que era rara a expedição que não regava com sangue a "aquisição" de mantimentos. Sabendo-se que o percurso, mais próximo entre Tomar e Leiria passa pelo Vale da Crima, estamos em crer que serão estes depoimentos os que mais se aproximaram da realidade de tal topónimo. De uma forma ou de outra, esse local aprazível e de raro encanto, como aliás tantos outros com que a natureza dotou a freguesia do Arrabal é um convite a uma tarde de nostalgia, onde a história e o ambiente parecem acasalar, esquecidos daquela Primavera sangrenta.
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