Uvas 100 por cento biológicas. Na Barreira, na Quinta da Serradinha, de António Marques da Cruz, a tradição do cultivo da vinha vem desde o seu bisavô. De geração em geração, Marques da Cruz assumiu a herança do cultivo de uvas, mas a partir de 1978 começou a interessar-se pela agricultura biológica. Como na altura ainda não havia certificação para este tipo de agricultura em Portugal "começámos a preocupar-nos em fazer tratamentos segundo algumas regras europeias e só em 1994 é que passámos a ter certificação de vinho de uvas biológicas", explica. Pegou nas vinhas quando o pai faleceu, tinha 29 anos na altura. Frequentou cursos de formação agrícola no estrangeiro porque, diz, "é fundamental mantermo-nos atentos às novas descobertas científicas. Este tipo de agricultura exige mais conhecimentos". Garante que usa apenas óxido de cobre e enxofre nas suas vinhas e que as ervas que muitos agricultores se apressam a matar com produtos químicos, "são benéficas, porque dão vida à terra. Há pessoas que chegam aqui e pensam que eu tenho a vinha abandonada. Faço muito poucas operações culturais, como lavrar ou frezar a terra, porque há terrenos em que lavrar a terra é destruir o ciclo de vida do terreno". Os métodos que usa vão variando em função do tipo de terreno onde está a vinha, mas não gasta um euro em adubos:
"Fazemos adubação verde que consiste na sementeira de tremocilha e outras leguminosas" explica acrescentando ainda que "estrume, só se for biológico ou de algas, mas isso é muito caro". A forte implementação das empresas de produtos químicos sistemáticos durante os anos 80 trouxe, na opinião de Marques da Cruz, uma autêntica revolução à agricultura, uma vez que "os agricultores começaram a usar esses produtos sem se aperceberem das suas consequências e foi aí que surgiu a nossa resistência. A nossa formação permitiu-nos não cair nas armadilhas". Para este agricultor da Barreira foi a falta de formação agrícola de muitos agricultores que permitiu a estas empresas instalarem-se até aos dias de hoje na agricultura portuguesa, tudo porque "em Portugal não existe formação nesta área", afirma. Marques da Cruz garante que o que gasta em produtos para a terra é apenas 15 por cento do que um
agricultor normal gasta. Mas isto não significa que não tenha outras despesas: "Como não uso herbicidas gasto mais em mão-de-obra". Diz que o que encarece a agricultura biológica é a produção. "Acaba por ser o segredo deste tipo de agricultura, mas é também aquilo que a torna mais cara porque produz-se menos quantidade". Todo o processo de produção do vinho é feito na Quinta da Serradinha, desde a apanha das uvas, "feita manualmente até ao engarrafamento". O vinho passa depois por um processo de estágio que pode durar vários anos. "Estou agora a vender o vinho de 1999 e ainda tenho vinho de 96", diz Marques da Cruz. A grande desvantagem deste tipo de cultura acaba por ser a sua imprevisibilidade: "Se as coisas correm mal não se consegue aproveitar nem uma gota de vinho e nestes casos a solução passa por vendê-lo às cooperativas", lamenta Marques da Cruz, que viu a produção de 2001 perder-se completamente por causa das chuvas. A venda ao público é feita directamente do produtor para o consumidor, a solução ideal para Marques da Cruz, que considera "um erro vender o vinho a intermediários, porque ninguém fica a ganhar". Adianta que cerca de 90 por cento das vendas são para o estrangeiro para paises como a Alemanha, Dinamarca, Holanda e França. Em Portugal vende apenas para lojas de produtos biológicos, mas também vendo muito para "os estrangeiros que vivem em Portugal, que são os meus melhores clientes", afirma a agricultor. Percorre quilómetros de feira em feira, dentro e fora do País para dar a conhecer o seu vinho, porque, garante, "este é o nosso principal canal de escoamento do vinho". Marques da Cruz vende cerca de oito mil garrafas por ano, mas confessa que apesar desta ser uma actividade rentável "não é a minha única actividade. Apesar de tudo é disto que eu gosto", conclui.
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