Na Pré-História, quer a vivência
e presença do Homem neste concelho são atestados por alguns exemplares
de machados de pedra polida, encontrados por estas paragens.
Desenrolou-se a conquista romana e este Concelho, situado na fronteira ocidental
do Império, também foi influenciado pela Romanização,
sendo bastante elucidativos os diferentes achados arqueológicos que nos
certificam esta realidade: moedas, mosaicos, telhas, pesos de tear,
colunas, mós, calçadas e provavelmente uma via romana.
Seguiu-se a invasão árabe que, devido à introdução
de novos conhecimentos, contribuiu para o engrandecimento da nossa cultura.
O uso da balança, da nora, o cultivo de certas plantas e a introdução
de palavras começadas pelo afixo Al – Albarrol, Aljazede, Alqueidão,
Alvorge, etc. – fazem parte da preciosa herança que recebemos dos
árabes.
É durante o reinado de D. Afonso Henriques que pela primeira vez aparece
escrito o vocábulo Ansião, que registado sob a forma Ansiom, consta
no documento datado de 1175, referente à primeira parte da compra da
herdade que o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra levou a efeito no ano acima
mencionado. Com o aparecimento desta importante certidão, pedra angular
da história ansianense medieval, não só foi possível
descobrir a origem da palavra Ansião – vocábulo germânico
que era usado como nome de uma pessoa que esteve ligada à dita herdade
– como também registar e desmentir a lenda em que se afirma que
o nome desta localidade foi dado pela Rainha Santa Isabel ao povoado habitado
pelo venerando ancião, um dos personagens dessa lenda.
Iniciada esta panorâmica dos princípios da Nacionalidade Portuguesa,
queremos de igual modo dar conhecimento de outras famosas localidades mais perpetuadas
por um elevado número de documentos:
- Alvorge, hoje sede de freguesia;
- Ateanha, povoação da anterior freguesia;
- Façalamin, povoação situada na actual Sant’
Ana, no sul da freguesia de Santiago da Guarda;
- Soucide, localidade da acima referida freguesia de Santiago da Guarda;
- Torre, povoação da freguesia de Torre de Vale de Todos
Todas estas localidades se situavam no extremo sul do Condado Portucalense e
estavam incluídas no vasto território que era vulgarmente designado
por Ladeia, excepto Ansião que se situava "in termino".
Era neste "corredor apertado" que durante vários anos os reconquistadores
cristãos faziam correrias para sul, enquanto que os escorraçados
mouros ambicionavam recuperar os terrenos que lhes haviam sido conquistados.
Grande era aqui a angústia e o pânico dos habitantes, pois ninguém
vivia de modo estável e, como cada vez a situação se tornava
mais difícil, D. Afonso Henriques travou aqui, nos campos compreendidos
entre Rabaçal, Alvorge e Ateanha, a controversa batalha de Ourique no
ano de 1139.
Querendo estimular o povoamento das terras que agora se tornavam mais hospitaleiras,
o dito monarca criou o concelho de Germanelo e deu-lhe foral em 1142, no qual
determinava que, além de serem livres de impostos, concedia paz, perdão
e isenção de justiça a todos quantos tivessem cometido
crimes de homicídio, de furto, ou de qualquer outro tipo de perturbação
pública, sob a condição de se refugiarem nas terras do
Germanelo, de as cultivarem e de as defenderem dos ataques dos inimigos.
Logo que tal notícia se divulgou, esta região viu alvorecer a
sua colonização e o seu sistema defensivo foi alargado com a edificação
de uma torre de defesa na Torre de Vale de Todos. Em Alvorge e Ateanha já
desde há muito tempo existiam torres de idênticas funções.
Só após a tomada da praça de Santarém aos mouros,
(D. Afonso I saiu de Coimbra, pernoitando em Alfafar e passou em Ansião
a 11 de Março de 1147) é que os colonos das "terras de ninguém"
iniciaram um secular período de tranquilidade que marcou o povoamento
das terras para o sul.
Há ainda que ter em consideração o fervoroso espírito
religioso da época que, com o lento aumento da população
contribuiu para o aparecimento da Igreja de N. Senhora da Conceição,
já citada no rol das igrejas de 1259.
Sobre a lenda do ancião a que já fizemos referência e sobre
a criação do convento do Vale Mosteiro, ambas relacionadas e atribuídas
à Rainha Santa Isabel, não é conhecido nenhum documento
dessa época que refira tais acontecimentos. Não obstante, é
lícito acreditar que o "Anjo da Paz" tivesse várias
vezes transitado por estas serras devido ao facto de serem atravessadas pela
régia estrada medieval.
Houve trovadores medievais que, possuindo delicadas sensibilidades, compuseram
belos poemas alusivos aos encantos desta região, sendo mais famosa a
cantata "polas serras dansian" guardada no Cancioneiro Geral de Garcia
de Resende.
Em 1514, D. Manuel I concedeu foral novo aos concelhos de Ansião,
de Avelar, de Chão de Couce e de Pousaflores, conservando ainda hoje,
estas três últimas terras, os seus primitivos pelourinhos, símbolos
do poder jurisdicional de cada concelho.
Muito famosa é a resistência senhorial de Chão de Couce
– hoje Quinta de Cima – na qual pernoitavam e chegaram a residir
por poucos dias alguns reis da dinastia afonsina e avizina.
Recentemente, foi considerada monumento nacional a quinhentista residência
dos condes de Castelo Melhor, situada em Santiago da Guarda, que é o
único exemplar da arquitectura manuelina existente por estas paragens.
O século XVII é o que de certo modo nos deixou mais memórias:
edificou-se a ponte da Cal, as capelas da Misericórdia e do Senhor do
Bonfim, para além de várias residências, algumas ainda habitadas.
D. Afonso VI elevou Ansião à categoria de vila, sendo o acontecimento
perpetuado por um foral novíssimo que lhe concedeu. D. Pedro II doou-a
a D. Luís Meneses, conde de Ericeira, e o senado do município
mandou erigir o padrão e um esbelto pelourinho para assinalar o facto.
É também a esta época que pertence a Misericórdia
de Alvorge.
Tempos depois apareceram quatro grandes homens de renome nacional que enalteceram
o nome de Ansião: Pascoal José de Melo, António Soares
Barbosa, Jerónimo Soares Barbosa e Francisco Freire de Melo.
Pascoal José de Melo foi o eminente jurisconsulto criador de "Direito
Pátrio Português" e de muitas outras obras de Direito. Era
professor catedrático de Leis, cónego doutoral das Sés
de Lamego e Viseu, comendador da Ordem de Cristo, íntimo amigo do Marquês
de Pombal, conselheiro da Rainha D. Maria I, etc.
António Soares Barbosa era presbítero secular, professor catedrático
de Lógica e Filosofia na mesma Universidade, etc.
Jerónimo Soares Barbosa, irmão do anterior, era também
presbítero secular e regia as cadeiras de Retórica, Eloquência
e Poética, na já dita Universidade.
Francisco Freire de Melo era sobrinho do Dr. Pascoal e foi insigne escritor,
era licenciado em Direito Civil.
Durante as invasões francesas o terror pairou no espírito da população,
à mercê dos tiranos forasteiros que incendiaram casas e capelas,
que destruíram arquivos, que saquearam igrejas e que praticaram tudo
quanto era desumano. Entre as memórias das crueldades cometidas por Massena
e pelo seu exército durante a terceira invasão, figuram a cremação
de duas mulheres vivas e o enforcamento de dois homens "mesmo à
vista das suas mulheres e filhos" na freguesia de Santiago da Guarda, "em
Ansião arrastaram com os cavalos um paisano até ele expirar".
Com a reforma dos municípios, levada a efeito por D. Maria II, os concelhos
de Avelar, Chão de Couce e de Pousaflores foram dissolvidos e, passando
à simples categoria de freguesias, foram anexadas por D. Carlos I ao
de Ansião que, devido a este aumento territorial, tomou as proporções
que ainda hoje conserva.
In Cãmara
Municipal de Ansião
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